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Susana Pinto

A realidade e a ficção: a escolha é vossa.

Hoje apeteceu-me falar sobre editoriais, chamados de styled shoots em inglês, e o espaço que estão a ocupar no nosso mercado de casamentos. Cumprirão a sua função inicial de processo criativo e ferramenta de marketing ou estarão a dominar a conversa, gostos e expectativas dos noivos?

Esta é uma excelente pergunta e ponto de partida para esta discussão animada e saudável.

A minha reflexão desta semana assenta num facto óbvio: a cultura visual dos noivos do momento, é vasta. O Pinterest e Instagram foram game changers, cada um a seu tempo, nesta nossa forma de absorvermos informação, colocando em primeiro plano a visual, e, só depois, a escrita.

 

No início do ano, no International Wedding Trend Report 2018, editado pela Wedding Academy Global, da qual agora faço parte , li o seguinte, escrito pela Ami Price, CEO do Aisle Society:

“Today’s brides and grooms grew up in a world where curating your experiences for social media is the norm. Weddings have long been aspirational, but now it’s in an entirely visul way. They want the kind of wedding they’ve seen on Pinterest, but always with a personal twist. An expensive banquet is great – but is it instagrammable? At least on some level, millennials are always considering how their choices will look on pictures…”

 

O fio da meada

 

E é aqui que entra a grande discussão do momento: queremos realidade ou ficção?  Estamos a vender realidade ou ficção? Os noivos estão a comprar realidade ou ficção?

Qualquer opção pode ser válida, mas o fundamental nisto (e em tantas coisas…), é a transparência e a verdade dos factos.

Explico melhor: eu posso querer vender, tranquilamente, ficção. Mas a mensagem que passo deverá, obrigatóriamente, sinalizar que é ficção, e quem compra, deverá ter bem claro para si, que aquilo que comprou tem um certo grau de fantasia, e está ok com isso.

Uma styled shoot é, na sua essência, um exercício criativo. Sem os constrangimentos do briefing do cliente, sem os limites de orçamento, apenas o que queremos criar, com total liberdade, de forma colaborativa, como os nossos pares, ou a solo. É um exercício fantástico, de facto. Puxa pelo melhor de nós, é desafiante, e pode ser muito recompensador. As fotografias que resultam, quando tudo corre da melhor forma, são arrebatadoras porque concentram e cristalizam todo um processo criativo que está para trás, toda uma história que saiu da nossa cabeça, foi construída com as nossas mãos e fica captada para sempre. Poderoso, não?

E é também uma fantástica ferramenta de comunicação: uma boa imagem dá a volta ao mundo, e temos a oportunidade de nos expressar de forma singular, mostrando aquilo que é a nossa assinatura criativa, a visão que temos sobre estes assuntos e como somos capazes de trabalhar em equipa.

Mas atenção – um editorial é pura ficção. E esta mensagem tem que ser muito clara, sobretudo nestes dias em que toda a internet transpira editoriais à esquerda e à direita.

Repito: um editorial é pura ficção, um editorial não é um elopement e um elopement editorial não é um casamento: isto é, simplesmente, mentira e quem assim anda a identificar o seu trabalho, está a falhar com todas as partes envolvidas – com o mercado, com o cliente, com os parceiros.

E não precisa de o fazer, porque um editorial é apenas isso: um editorial, um exercício criativo, uma demonstração de estilo, uma assinatura: isto é o que eu sou capaz de fazer, como autor, como criativo, como executante. E isso é óptimo e suficiente.

Agora, não é realidade, não é um serviço vendável e muito menos comprável, se formos honestos. Peguemos numa destas mesas fantásticas que vemos em qualquer destes editoriais bonitos. Desmontemos item a item, e multipliquemos por 10, 15, 25 mesas, que é a situação real: deixa de ser possível, claro! Ou porque o custo da decoração floral é uma loucura e o cliente não tem orçamento para isso, ou porque as peças (louça, talheres, candelabros) são compradas ali na Area, Zara Home ou vieram emprestadas da Vista Alegre e, novamente, o custo é incomportável para um casamento de 80 convidados. Ou porque aquelas flores que ficam tão bonitas durante as duas horas que dura o shooting não vão aguentar a 6, 8 ou 14 horas que dura um casamento. Ou, até, porque os constrangimentos dos espaços são incompatíveis com o que faz uma mesa singular, posta para dois, ser tão bonita.

Realidade e ficção são dois elementos muito distintos, caros noivos.

 

Um profissional será sempre capaz de pôr a sua assinatura e visão ao serviço do cliente, e tem a experiência, elasticidade e conhecimento para ajustar o conceito criativo do evento, ao cenário que tem pela frente.

Quem sabe menos, por muitos editoriais bonitos e publicados internacionalmente que tenha feito (e colocado no seu site como “portefolio” ou “casamentos”), é confrontado com  a díficil gestão de projecto que é montar um casamento a sério, com custos, orçamento, espaço, e, sobretudo pessoas envolvidas (das equipas aos noivos, passando pelos fornecedores e convidados). Esta passagem de escala de um editorial delicado e intimista, perfeito em todos os seus elementos e totalmente controlado, para uma situação real, é um assunto muito sério e quem não tem total consciência disso, está a pôr o seu cliente, parceiros e reputação em risco. Ninguém quer isso, pois não?O fio da meada

Fechando numa nota mais positiva e menos dramática: queridos noivos, não se vençam (nem convençam) por uma imagem do Instagram ou uma publicação estrangeira. Vejam, pesquisem, contactem, conversem. Sintam empatia, constatem a experiência e a sua relação com o preço pedido. Nem sempre uma imagem vale mil palavras e este é, claramente, um desses casos.

Como dizemos tantas vezes, saber é poder. O mercado está repleto de oferta bonita, sejam sábios e informados nas vossas escolhas!

 

 

Duas vezes por mês, sempre às quartas-feiras, escrevo sobre assuntos que me fazem pensar, num artigo de opinião a que chamo O fio da meada.

Querem discuti-los comigo? Seria um prazer! Acompanhem-me aqui.

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