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Susana Pinto

A realidade e a ficção: a escolha é vossa.

Hoje apeteceu-me falar sobre editoriais, chamados de styled shoots em inglês, e o espaço que estão a ocupar no nosso mercado de casamentos. Cumprirão a sua função inicial de processo criativo e ferramenta de marketing ou estarão a dominar a conversa, gostos e expectativas dos noivos?

Esta é uma excelente pergunta e ponto de partida para esta discussão animada e saudável.

A minha reflexão desta semana assenta num facto óbvio: a cultura visual dos noivos do momento, é vasta. O Pinterest e Instagram foram game changers, cada um a seu tempo, nesta nossa forma de absorvermos informação, colocando em primeiro plano a visual, e, só depois, a escrita.

 

No início do ano, no International Wedding Trend Report 2018, editado pela Wedding Academy Global, da qual agora faço parte , li o seguinte, escrito pela Ami Price, CEO do Aisle Society:

“Today’s brides and grooms grew up in a world where curating your experiences for social media is the norm. Weddings have long been aspirational, but now it’s in an entirely visul way. They want the kind of wedding they’ve seen on Pinterest, but always with a personal twist. An expensive banquet is great – but is it instagrammable? At least on some level, millennials are always considering how their choices will look on pictures…”

 

O fio da meada

 

E é aqui que entra a grande discussão do momento: queremos realidade ou ficção?  Estamos a vender realidade ou ficção? Os noivos estão a comprar realidade ou ficção?

Qualquer opção pode ser válida, mas o fundamental nisto (e em tantas coisas…), é a transparência e a verdade dos factos.

Explico melhor: eu posso querer vender, tranquilamente, ficção. Mas a mensagem que passo deverá, obrigatóriamente, sinalizar que é ficção, e quem compra, deverá ter bem claro para si, que aquilo que comprou tem um certo grau de fantasia, e está ok com isso.

Uma styled shoot é, na sua essência, um exercício criativo. Sem os constrangimentos do briefing do cliente, sem os limites de orçamento, apenas o que queremos criar, com total liberdade, de forma colaborativa, como os nossos pares, ou a solo. É um exercício fantástico, de facto. Puxa pelo melhor de nós, é desafiante, e pode ser muito recompensador. As fotografias que resultam, quando tudo corre da melhor forma, são arrebatadoras porque concentram e cristalizam todo um processo criativo que está para trás, toda uma história que saiu da nossa cabeça, foi construída com as nossas mãos e fica captada para sempre. Poderoso, não?

E é também uma fantástica ferramenta de comunicação: uma boa imagem dá a volta ao mundo, e temos a oportunidade de nos expressar de forma singular, mostrando aquilo que é a nossa assinatura criativa, a visão que temos sobre estes assuntos e como somos capazes de trabalhar em equipa.

Mas atenção – um editorial é pura ficção. E esta mensagem tem que ser muito clara, sobretudo nestes dias em que toda a internet transpira editoriais à esquerda e à direita.

Repito: um editorial é pura ficção, um editorial não é um elopement e um elopement editorial não é um casamento: isto é, simplesmente, mentira e quem assim anda a identificar o seu trabalho, está a falhar com todas as partes envolvidas – com o mercado, com o cliente, com os parceiros.

E não precisa de o fazer, porque um editorial é apenas isso: um editorial, um exercício criativo, uma demonstração de estilo, uma assinatura: isto é o que eu sou capaz de fazer, como autor, como criativo, como executante. E isso é óptimo e suficiente.

Agora, não é realidade, não é um serviço vendável e muito menos comprável, se formos honestos. Peguemos numa destas mesas fantásticas que vemos em qualquer destes editoriais bonitos. Desmontemos item a item, e multipliquemos por 10, 15, 25 mesas, que é a situação real: deixa de ser possível, claro! Ou porque o custo da decoração floral é uma loucura e o cliente não tem orçamento para isso, ou porque as peças (louça, talheres, candelabros) são compradas ali na Area, Zara Home ou vieram emprestadas da Vista Alegre e, novamente, o custo é incomportável para um casamento de 80 convidados. Ou porque aquelas flores que ficam tão bonitas durante as duas horas que dura o shooting não vão aguentar a 6, 8 ou 14 horas que dura um casamento. Ou, até, porque os constrangimentos dos espaços são incompatíveis com o que faz uma mesa singular, posta para dois, ser tão bonita.

Realidade e ficção são dois elementos muito distintos, caros noivos.

 

Um profissional será sempre capaz de pôr a sua assinatura e visão ao serviço do cliente, e tem a experiência, elasticidade e conhecimento para ajustar o conceito criativo do evento, ao cenário que tem pela frente.

Quem sabe menos, por muitos editoriais bonitos e publicados internacionalmente que tenha feito (e colocado no seu site como “portefolio” ou “casamentos”), é confrontado com  a díficil gestão de projecto que é montar um casamento a sério, com custos, orçamento, espaço, e, sobretudo pessoas envolvidas (das equipas aos noivos, passando pelos fornecedores e convidados). Esta passagem de escala de um editorial delicado e intimista, perfeito em todos os seus elementos e totalmente controlado, para uma situação real, é um assunto muito sério e quem não tem total consciência disso, está a pôr o seu cliente, parceiros e reputação em risco. Ninguém quer isso, pois não?O fio da meada

Fechando numa nota mais positiva e menos dramática: queridos noivos, não se vençam (nem convençam) por uma imagem do Instagram ou uma publicação estrangeira. Vejam, pesquisem, contactem, conversem. Sintam empatia, constatem a experiência e a sua relação com o preço pedido. Nem sempre uma imagem vale mil palavras e este é, claramente, um desses casos.

Como dizemos tantas vezes, saber é poder. O mercado está repleto de oferta bonita, sejam sábios e informados nas vossas escolhas!

 

 

Duas vezes por mês, sempre às quartas-feiras, escrevo sobre assuntos que me fazem pensar, num artigo de opinião a que chamo O fio da meada.

Querem discuti-los comigo? Seria um prazer! Acompanhem-me aqui.

Susana Pinto

O algoritmo e os outros

Esta semana aconteceu-me isto.

No supermercado do bairro, em conversa com o repositor, perguntei pelos meus iogurtes preferidos, Davaca (nacionais, produzidos em Elvas). Prateleira vazia, apenas dois sabores em permanência e quantidade, sempre: figos com canela e doce de leite. Naturais, nada, esgotados. Estão sempre esgotados, insisti eu. Resposta simpática (mas vagamente frustrada, também ele): sabe, a reposição é feita por um algoritmo, é o algoritmo que decide o que é encomendado e quando.

A marca tem pelo menos 11 sabores, todos eles gulosos, mas ali só há, sempre, estes dois. E sem grande saída, poque a prateleira deles está sempre cheia. Mas um qualquer algoritmo interpreta os dados de uma forma incompreensível e remove da lista o iogurte mais procurado, em permanente ruptura de stock e outros sabores, como singela baunilha, ou cereja, ou frutos vermelhos. Qual é a veracidade desta interpretação? Não mais que 50%, certamente.

Então a pergunta que se impõe, é: que benefício nos traz esta remoção do factor humano na equação? Claramente, nenhum.

 

 

E este é um assunto com que me tenho debatido, muito, nos últimos tempos. Conversei com a Eliana Tomaz, que dá consultoria em estratégia comercial e é responsável de comunicação de outras marcas nacionais e internacionais, sobre este deslassamento das relações pessoais na esfera profissional.

Na perspectiva da Eliana, que partilho integralmente, o mundo virtual desvirtuou as relações pessoais. Hoje, para muitos, infelizmente, chega um like ou um follow: é-lhes suficiente essa “ligação”, essa associação, essa ligeireza de compromisso. Este universo virtual faz parecer que tudo é muito fácil, rápido e barato.”

 

E eu pergunto: de onde vem esta informalidade nas relações profissionais? É certamente reflexo da proximidade virtual, de repente somos todos lá de casa, teremos andado juntos no liceu? Dispensamos uma apresentação básica, nome, apelido, função/cargo/profissão. Mas a falta que isso faz, para nos posicionar na grande ordem das coisas. E quando de facto nos queremos aproximar, saber mais, conversar de forma real, construtiva, sumarenta, ah, não, isso dá muito trabalho, não estou interessado, não tenho tempo, estou cheio de trabalho.

Really?

A Eliana diz que as relações físicas e os contactos reais são a chave para o sucesso das marcas, seja no mundo do serviços ou dos produtos”. Fala pelas marcas que comunica ou pela sua, a Tomaz, onde toma a liberdade de testar tudo e mais alguma coisa: “a Tomaz é a Tomaz por causa das relações pessoais, das conversas longas, das explicações, dos pormenores.
Somos invadidos diariamente com informação, acredito que estamos num momento de rotura e tenho-me apercebido que as pessoas precisam mesmo de partilhar, de conversar.
Quem conseguir manter relações pessoais/físicas com os clientes, ficará a ganhar grandemente”.
Perguntei-lhe: como aplicarias isso em marcas, com aconselhas e convences o teu cliente, qual é o argumento que o faz, pelo menos, parar para pensar?
Achas que há um ponto específico onde a balança vira, um argumento ganhador?

A resposta é um cliché, mas que vale por ser comprovadamente verdade: ser honesto e mostrar a realidade da marca. Ter uma boa narrativa, uma boa história. Fazer perguntas ao cliente. Ouvir as respostas. Ouvir as perguntas, ter as respostas. Ter uma estratégia bem montada, insistir. E estar à vista, disponível: participar em eventos, pop up shops, mercados, seminários, feiras, encontros, etc..

 

Simples, presente e real. Back to basics!

 

 

Imagem via Pinterest.

 

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Susana Pinto

ASB e DSB

Antes do Simplesmente Branco e Depois do Simplesmente Branco.

“Como assim?”, poderão estar a pensar desta entrada dramática e afirmativa para o meu post de hoje, mas é uma afirmação tranquila e muito segura.

Há todo um momento, cenário, estética, posicionamento, modo de fazer e visão anteriores à existência do Simplesmente Branco, que mudou com a sua criação. Não quero com isto dizer que mudámos o mundo, inventámos a roda ou desprezamos tudo o que existia antes – longe disso!

O nosso valor – e a mudança que semeámos – foi validar a diferença.

Foi dizer (e justificar, demonstrando) que as coisas podiam ser feitas de outra forma, sem com isso matar o negócio, sem com isso deixarmos de ser profissionais, sem com isso deixar de servir, da melhor forma, os noivos, esse cliente tão precioso e único, conquistado a cada contacto e perdido após o grande dia, numa renovação de esforço contínua.

Validar a diferença foi (e é) tranquilizar os noivos que querem algo à sua medida – mesmo sem saber exactamente o que isso significa ou como se concretiza. É passar a mensagem de que o mercado está preparado para construir o mais bonito dos dias com eles, não apesar deles. É mostrar formas de fazer – das ideias mais simples às cedências mais complicadas -, que podem ser distintas do habitual, mas que não há problema nenhum com isso, que resultam, que são exequíveis, porque todos somos profissionais empenhados (e se não são, é isso que explicaremos e porquê).

É ajudar os noivos a sentirem-se bem na sua própria pele, confortáveis com as decisões tomadas, é ajudá-los a passar a mensagem, conceito e visão às suas famílias, é ajudá-los a argumentar e a encontrar o seu caminho num mar de opiniões, bem intencionadas, é certo, mas nem sempre certeiras.

É dar-lhes conhecimento, torná-los sabedores dos seus direitos e deveres (sim, ambos), dar-lhes ferramentas para gerirem, com sucesso, esta empresa temporária que se chama casar, onde investimento financeiro e emocional são imensos e estão interligados. Saber é poder, dizemos todos os dias. E vai correr tudo bem.

 

Do outro lado, o mercado.

Esse lago imenso e tão interessante, onde navegamos todos os dias e que queremos (falo por mim e pelos meus fornecedores) que seja cristalino e azul…

O que fizémos por ele, que mudanças touxemos para cena?

Iniciámos o diálogo.

Como o fazemos dentro de casa, passámos a fazê-lo fora também. Ligámos os intervenientes, apresentámo-los entre si, fomentámos a conversa, criámos ligações. De forma descontraída, informal, saudável.

Hoje temos uma comunidade criativa, fervilhante, renovada, de fornecedores profissionais do mercado de casamentos. Deixou de haver o domínio de um grupo sobre os restantes, subalternos e menores, e passou a haver uma comunidade de fornecedores, com voz própria, que se associa livremente aos seus pares: outros fornecedores que partilham a mesma visão de negócio, objectivos e perfil de cliente.

De peças soltas, sem grande assertividade ou rumo, passámos a ter uma rede profissional, arrumada por tribos de estilo. Eu diria que isso é muito interessante, democrático e até facilitador para o cliente.

E tal como validámos a diferença para os noivos, também o fizemos para os profissionais.

Mostrámos que havia procura para a oferta que estes fornecedores imaginavam prestar, inspirados pelo que viam lá fora nos blogs de referência (muito antes do Pinterest, muito antes do Instagram, muito antes de tudo e do mundos er tão global) e que também eles, cabeças criativas e talentosas, queriam pôr em prática.

Abrimos a porta para a casa onde estes dois lados do negócio se encontram: quem procura e quem oferece, quem compra e quem vende, quem imagina e quem executa.

Demonstrámos que a necessidade era real, que estes dois lados existiam e que precisavam, muito, de se encontrar. E criámos as condições para que isso acontecesse, para que essa conversa começasse.

 

O resultado é claro: há um antes e há um depois. O mercado de casamento nacional é hoje vibrante, criativo, não está atrás de ninguém, tem voz própria e uma amplitude de variedade que serve, literalmente, todos os gostos.

Tem as suas flutuações, os seus defeitos, o seu lodo (ainda muito longe do meu utópico lago cristalino), mas é variado, robusto, livre. É dinâmico e é interessante.

E isso, queridos noivos e caríssimos fornecedores, é muito, muito bom!

 

Imagens via PinterestPaper n’ Stich.

 

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Susana Pinto

Eu quero um casamento diferente.

Começamos o novo ano por aqui: desejo-vos um óptimo 2018!

Devagarinho, fechámos as portas (e as pontas) ao que passou (e foi bastante…!) e aproveitámos os momentos para alguns balanços ligeiros (fazemo-lo em modo contínuo, pelo que as reflexões mais complexas não ficam para o fim). Aproveitámos também para elaborar melhor algumas ideias ideias que temos a pairar pela cabeça.

E uma delas, recorrente no que leio, é esta ideia feita de que os casamentos, em geral, ainda são bastante desengraçados e quase foleiros, e portanto, “eu quero um casamento diferente”.

Sou sempre surpreendida por este comentário, por muitas vezes que o ouça: está tão longe da realidade, como daqui à lua!

 

Vestido de noiva diferente

 

Anel de noivado diferente

 

Penteado de noiva solto com apanhado lateral

 

Não sei bem de onde vem, não sei bem como é que esta percepção ainda não mudou, não sei bem porque sítios navegam as noivas de hoje em dia, que casamentos frequentam, se é acaso ou azar, porque norma não será… Resolvi, então, dedicar este novíssimo 2018 a combater este preconceito penoso que me entristece – e, certamente, aos nossos fornecedores também! Trabalhamos árduamente para prestar o melhor dos serviços, sempre, de forma inovadora, refrescante, consistente. Trazemos novas ideias e novas abordagens para o mercado, temos um discurso marcado pela ideia de liberdade de escolha, de personalização, de “totalmente a vossa cara”, por isso, como é possível que os noivos ainda sintam este constragimento…? Pois não sei!

Queridas noivas, o vosso casamento é e deverá ser, apenas, o que vocês querem que seja. E provavelmente, para vossa surpresa, essa é que é a norma, esse é que é o modo de trabalho dos bons fornecedores de hoje em dia (e dos últimos  anos!).

As ideias feitas e formatadas já saíram da lista há muito tempo (sim, há anos, pelo menos desde que o Simplesmente Branco existe e caminhamos para o 8ª aniversário!): as famosas “cascatas de camarão”, cuspidores de fogo, bacalhau ou vitela, bouquet de rosas vermelhas aveludadas ou fatos de noivo a brilhar, são mesmo só para quem os quiser, não a única opção disponível ou, sequer, a oferta mainstream.

É importante perceber de forma clara que um serviço personalizado será sempre mais caro que um serviço formatado (pensado, precisamente, para a eficácia do custo e para a consistência do lucro). Ambos terão qualidade idêntica, mas um serviço personalizado gasta sempre muito mais tempo, recursos e atenção do que um serviço pronto a consumir, e esta é a essência da sua diferença.

E é igualmente importante estar disponível para pagar o preço justo, não querer alta costura a preço de pronto-a-vestir.

 

Mkeup de noiva com baton colorido

 

Clutch de noiva forrada a pérolas

 

Sapatos de noiva em cetim vermelho

 

Entre um (serviço personalizado) e outro (serviço pronto a consumir), há um universo de opções maravilhosas, contemporâneas, globais, a todos os preços e de total qualidade, à vossa escolha. Estão à distância de um click, de um email, de uma bela conversa.

E nem sequer precisam de ir muito longe, porque tudo isto existe, de facto, em Portugal: passem os olhos pelos portefolios dos nossos fornecedores, pelo nosso livro, pelas nossas revistas.  Chamem-lhe diferente ou igual, para nós não tem importância nenhuma. A única verdade universal é simplesmente esta, acreditem: o que é nacional é muito bom!

 

Imagens via The Lane, Lucky Pony, Brown dress with white dots, Glossier, The Zoe Report e Mango.

 

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Susana Pinto

O meu dinheiro vale mais do que o teu

Parece um daqueles títulos em formato clickbait, não é? E parece igualmente uma forma um pouco intensa (para não usar outra expressão), de começar esta minha crónica de quarta-feira. Mas não se preocupem, que já o troco por miúdos, mesmo sabendo que será um assunto inevitavelmente quente: esta é uma batalha geracional, como as tivemos com os nossos pais, e eles com os seus. E são vocês, queridos leitores, os interlocutores que estão do outro lado: os millennials.

De acordo com o Merriam-Webster, esta definição é aplicada às pessoas nascidas na década de 80, até aos anos 2000, e tem outros tantos sinónimos, sendo este o nome mais comum.

E porque é assunto de crónica? Porque este é o grupo demográfico dos nossos noivos, dos nossos clientes actuais, e tem umas especificidades, comportamentais e de consumo, que são incrivelmente desafiantes: é recorrente o seu debate, entre fornecedores, e por isso tão importante falarmos sobre isto.

Num artigo do Jornal Económico, do início do ano, a consultora Eduarda Carvalho escrevia o seguinte:

“A geração Millennial nasceu entre 1980 e 1996, quer tudo sem pagar nada, exige alta qualidade mas vive em mutação constante, e o que gosta hoje pode não gostar amanhã.”

E do lado de cá, pensei – pois é, é isto mesmo que tenho observado.

“Para os Millennials, o importante está na experiência, mais do que no ter, mas também no ser. Esta é uma geração que quer ‘bom e barato’, assim como ecológico e socialmente responsável. Uma marca que não o seja pode perder neste segmento muitos adeptos. (…)  Como é óbvio, tudo isto tem de estar disponível online. Não esqueçamos que esta é uma geração de nativos digitais que cresceram com teclados. São filhos da globalização.

(…)

São mais empreendedores do que os seus antecessores e muito mais racionais a consumir. Mas também são menos fiéis.”

 

E daqui sigo para os os pontos-chave deste exercício de hoje: consumo racional (muito mais ponderado e cerebral, por oposição a impetuoso e por impulso) e qualidade a preço baixo. (algo que não existe).

 

 

O primeiro ponto tem impacto directo no negócio, tal como sempre o conhecemos. A forma como se consome hoje em dia, e que não é exclusiva da geração millennial, porque a grande crise dos últimos anos teve esse efeito, é bem mais frugal e pensada. Se voltámos a um certo nível de conforto financeiro que já usufruímos noutros tempos, não gastamos da mesma forma leve e pouco pensada. Discutimos preço, queremos saber em detalhe de que é feita a soma e compreender os números. E o mercado de casamento em Portugal tem sentido isso, os fornecedores têm sentido isso. Não é que os orçamentos disponíveis tenham encolhido, a forma como o dinheiro é investido e a importância que cada elemento e parcela tem, na grande ordem das coisas, é que mudou, e todos teremos de nos ajustar e mudar também. Sem grandes queixas, de forma consciente e estratégica, e o negócio continuará a acontecer, a crescer e a ser saudável. Se o cenário muda, só temos que mudar com ele, se queremos seguir viagem.

O segundo ponto é um problema, sério, porque é um reflexo disto: o meu dinheiro é mais importante (e valioso) que o teu.

O segundo ponto é um problema, sério, porque é um reflexo disto: o meu dinheiro é mais importante (e valioso) que o teu. O que eu quero vale X (e eu próprio valho esse X), mas o que me estás a vender não pode custar mais do que Z (porque o teu tempo, esforço, conhecimento, experiência não podem custar mais do que Z, e eu nem quero gastar verdadeiramente Z).
Vi isto escrito por um fotógrafo que se indignava publicamente nas redes sociais, que não lhe pedissem para baixar o preço da sua arte, que era o seu talento e o seu ganha-pão… e dias depois, o mesmo fotógrafo perguntava, no mesmo sítio e da mesma forma indignada, quem lhe recomendava um guia turístico (especializado) para um passeio longo e dedicado, porque o valor que lhe fora apresentado era – na sua opinião – um escândalo (80 euros).

 

Esta percepção duplo-padrão, do meu e do teu, é uma questão complicada destes tempos modernos, e é muito pouco justa.

Encosta a experiência, o conhecimento e a reputação a um canto, descarta-os como pormenores sem importância e dá espaço ao bullying cliente-fornecedor, à pressão para baixar o preço sem mexer no serviço. Porque eu não quero pagar mais. Ponto.
Quando esta discussão não tem argumentos do outro lado que sustentem a sua posição, não é possível um encontro de vontades, é apenas desigual e não é caminho para coisa nenhuma.

E na realidade, uma parte da culpa é mesmo nossa, dos prestadores de serviço, dos profissionais do mercado, que verbalizamos para a audiência que os nossos noivos são uns queridos, são nossos amigos, são os melhores do mundo, são família, uma simpatia (raramente os tratamos pelo que realmente são: clientes).

Ora, isto não é, genéricamente, verdade. E nós só vendemos um serviço, nada mais. Não estamos a salvar o mundo.

Ao darmos espaço de manobra para esse bullying se instalar, continuamos a baixar a fasquia, a oferecer mais e mais numa tentativa ingénua de agradar o cliente, e não o pomos na ordem quando a situação o exige. Começou a faltar-nos distanciamento na relação cliente/fornecedor, partimos logo para o “tu”, para a proximidade e isso tem consequências sérias, mesmo que aparentemente invisíveis. Estamos a passar a mensagem errada e há-que reflectir sobre isso e agir, se queremos que alguma coisa mude.

É bom que haja um espaço de formalidade que salvaguarda um pouco o lado de cá (e o lado de lá, que todas as relações saudáveis são bi-direccionais!).

Alimentar uma conversa/negociação que antevemos ser pouco frutuosa, é desgastante, custa tempo e disponibilidade. Saber dizer não e perder, é uma aprendizagem valiosa. Cada cliente com este perfil de bully que se perde, traz um ganho de tempo que pode ser alocado à actualização do portfolio, a pôr a contabilidade em dia, a ver as novidades da estação, a preparar conteúdos para divulgação, a pensar. Não é pouca coisa, pois não?

Isto não faz de nós pessoas brutas ou com má vontade. Somos profissionais. E só temos que o ser, verdadeiramente: porque dentro dessa definição estão naturalmente incluídos conceitos de cordialidade, educação, boas práticas, boas maneiras, etc..

Isto não faz de nós pessoas brutas ou com má vontade. Somos profissionais. E só temos que o ser, verdadeiramente: porque dentro dessa definição estão naturalmente incluídos conceitos de cordialidade, educação, boas práticas, boas maneiras, etc..

Afinal, o nosso dinheiro vale todo a mesma coisa (e é só dinheiro, não é alma ou algo superior): o meu, o teu e o nosso!

 

Imagem via Jasmine Dowling.

 

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Save

Save

Susana Pinto

Normal is underrated

Na semana passada fui até Londres visitar o evento Brides The Show, promovido pela Condé Nast, a editora da revista Brides.

A selecção de fornecedores presentes era óptima, já que corresponde, segundo a organização, ao melhor do mercado de casamentos inglês. A oportunidade de ver de perto os magníficos vestidos de noiva Katya Katya Sheurina, Amanda Wakeley, Savin London, Halfpenny e Andrea Hawkes foi claramente o ponto alto da minha visita, mas esta experiência pôs-me a pensar numa série de coisas curiosas.

 

 

A primeira delas, é o quanto a abordagem ao assunto casamento é diferente entre eles e nós, e isso é muito interessante, por várias razões… Será por serem anglo-saxónicos e nós, latinos? Será porque não é um passo tão importante na vida do casal como é para nós? Será porque a disponibilidade financeira e o seu gasto têm um peso diferente entre eles e nós?

O facto é que neste evento, tudo era bastante contido e de muita qualidade. Os espaços de cada fornecedor tinham 1/3 do tamanho dos nossos (e não era preciso mais, de facto), a fotografia não era o serviço dominante (nem perto disso) e o esforço não estava no melhor stand nem no maior aparato, mas sim no melhor produto, na melhor qualidade. Como devem imaginar, gostei muito!

 

Como é que plataformas, que sempre foram verdadeiras instituições de bom gosto, criatividade e qualidade irrepreensível, promovem casamentos em supermercados com bouquets de donuts e pizza de oferta, apenas porque é diferente, e consequentemente, genial?

 

Este último ano tem sido pródigo em absurdos, e, por oposição, esta normalidade qualificada é um caminho que quero muito explorar e fazer convosco.

Querem exemplos para saber do que falo?

O Style me pretty promove, no seu prime time, um serviço de pizzas (ou pizza registry, um conceito que nem consigo verdadeiramente traduzir), para os noivos.

As Wedding Chicks publicam um casamento que aconteceu na cadeia americana de supermercados Costco (estão a ver os nossos Continentes?).

A revista Sábado escreve um artigo onde sugere que comprar sumos e salgados no supermercado, contratar um fotógrafo amador no Facebook ou escolher uma quinta agrícola (nem sei muito bem o que isto quer dizer) são truques para cortar no orçamento.

O Style me pretty volta à carga com a partilha de um artigo sobre uma noiva que casa com um bouquet feito de donuts (leram bem).

As Wedding Chiks publicam um editorial que gira à volta de canabis (from a beautiful hemp + silk wedding dress to a “bud bar” with a professional “budtender” and “dabarista”), porque é very creative and unique.

As plataformas NIT e Delas.PT escrevem, em simultâneo, artigos absurdos sobre as tendências de casamento para 2017 (será a google trend do mês?).

Lamas num casamento são uma tendência. Cavalos disfarçados de unicórnios também. E abacates, não esquecer das 14 ideias para incorporar abacates na vossa festa de casamento.

 

Em comum? O absurdo absoluto, a falta de ideias e o disparate como factor diferenciador, porque “normal”, “simples”, são atributos para os fracos e para os pobres.

 

Como é que chegámos aqui, caríssimos noivos e fornecedores?

Como é que plataformas, que sempre foram verdadeiras instituições de bom gosto, criatividade e qualidade irrepreensível, promovem casamentos em supermercados com bouquets de donuts e pizza de oferta, apenas porque é diferente, e consequentemente, genial? Em que momento é que nós, consumidores, damos ok a estas ideias (e outras, excessivas, desapropriadas, postas em prática e servidas à colherada apenas pelo argumento da diferença, sem consistência, sem propósito, sem conteúdo), e as validamos como óptimas e dignas de prime time ou, pior, apropriadas e perfeitas para a nossa própria festa, para o nosso dia mais bonito?

 

Para o próximo ano, a minha vontade é que olhemos para o “normal” e para o “simples” como diamantes à espera de polimento. São conceitos e premissas óptimos e valiosos, apenas precisam do ângulo certo para brilhar.

 

Não vamos por aí. Eu não quero mesmo nada ir para aí.

“When they go low, we go high”, disse a Michelle Obama num incrível discurso, antes das eleições americanas, lembram-se disso? Pois é esse o caminho.

Para o próximo ano, a minha vontade é que olhemos para o “normal” e para o “simples” como diamantes à espera de polimento. São conceitos e premissas óptimos e valiosos, apenas precisam do ângulo certo para brilhar.

A qualidade ganha sempre ao aparato!

 

Bolo de arroz

 

Fotografia de Nikole Herriot.

 

Duas vezes por mês, sempre às quartas-feiras, escrevo sobre assuntos que me fazem pensar, num artigo de opinião a que chamo O fio da meada.

Querem discuti-los comigo? Seria um prazer! Acompanhem-me aqui.

 

Susana Pinto

Ready, set, go: o início da época de casamentos 2018

Setembro é o mês de pico a cada época de casamentos. Os dias continuam longos e dourados, ainda há férias para desfrutar e para quem já regressou ao quotidiano, há uma leveza boa que persiste nestes primeiros dias.

Por cá, a nossa rotina é feita em contraciclo. Mais próxima dos noivos, às avessas dos fornecedores.

Enquanto os nossos parceiros estão na recta final a fintar o cansaço e em contagem decrescente da última mão-cheia de casamentos, Setembro é, para mim, o início do novo ciclo, de mais uma aventura, de mais uma viagem. Antecipamos as ideias que se irão destacar, as tendências “must have“, as cores Pantone (mas alguém liga mesmo a isto?). Abrimos uma nova agenda de contactos, anotamos os talentos que temos debaixo de olho e alinhamos de forma mais consistente as ideias e projectos que planeamos para o Simplesmente Branco, nesta próxima volta ao sol.

Mas Setembro é também um momento de reflexão sobre a época anterior: que temas se destacaram, o que intuímos que está em mudança ou precisa de ser amadurecido e discutido, em termos de mercado. Quem foram os noivos de 2017, o que procuravam, o que escolheram, o que os fez felizes, que informação circulou neste vai-e-vem de contactos, orçamentos, planos, contas, festas e uniões, entre sites, redes sociais, plataformas e imprensa tradicional?

Parar para pensar sobre tudo isto trouxe-me alguma inquietação: a desinformação é cada vez maior e o Simplesmente Branco terá mesmo que ter uma voz forte e activa (sempre teve, mas terá que falar um pouco mais alto). Assumimos esse papel com o entusiasmo e a seriedade que nos caracterizam.

Parece que estamos a andar para trás: click bait, notícias que não são notícia, títulos que desinformam, “best of” que juntam bom e mau na mesma lista, “eu li, por isso é verdade”, tudo isto tira discernimento e inteligência ao debate e este verão teve um episódio em que batemos, colectivamente, no fundo. Como classe profissional, como players e influenciadores, como consumidores, deixámos que esta mensagem passasse.

 

A revista Sábado contactou-me para opinar sobre casamentos low cost. Respondi, textualmente, isto:

“Não a posso ajudar – o termo low cost e casamentos não vão juntos, do nosso ponto de vista. É uma definição prejudicial para o mercado, que se quer sério, honesto e transparente, e desinforma o cliente, propagando uma ideia errada de que tudo é caro, sobre valorizado e que low cost é uma opção para gastar menos.

Não é. O bom caminho é gastar o que se tem, não mais. Se temos 5 mil euros, não fazemos planos como se tivéssemos 20 mil. E dentro desse número mágico que é o orçamento de cada casal, seja gordo ou frugal, fazer escolhas em conformidade. A poupança está em fazer boas escolhas, separar o essencial do acessório, não em comprar serviços baratos, de fraca qualidade.

Posso dar-lhe dois ou três exemplos rápidos – escolher flores da época e de produção nacional, ter apenas uma refeição (jantar) e um simpático cocktail de recepção, em vez de um almoço e um jantar e tudo o resto, ser criterioso com o número de convidados, comprar um bom fato, clássico e impecável, que será vestido muitas vezes e terá uma vida de pelo menos 5 a 10 anos, comprar uns sapatos que sigam o mesmo critério, procurar um vestido da colecção anterior ou até explorar as linhas de festa, que podem ser muito surpreendentes nos modelos e preços. Sempre sem comprometer a qualidade e o significado que o dia comporta.”

 

Disponibilizei-me para conversar com mais detalhe, a jornalista insistiu com o valor do orçamento: “o que deve fazer um casal quando tem pouco dinheiro para gastar, 1000 ou 3000 euros?“, juntou mais duas questões afins e perguntou se podia incluir as minhas respostas.

 

O resultado foi um artigo unilateral (a servir quem, exactamente?), que ignora o mercado e os seus profissionais, e dá voz de autoridade a escolhas muito particulares e pessoais. E aqui está o elefante na sala, a ideia profundamente errada que baralha toda a gente: casar custa uma fortuna.

Ora, para casar, são precisos, exactamente 220 euros, no mínimo, e 390 euros, no máximo, conforme as opções legais escolhidas. O resto? O resto é uma festa, apenas isso e é essa perspectiva sob a qual deve ser olhada e debatida.

A mensagem que passou, é que todo este mercado é um absurdo e que contratar um fotógrafo amador no Facebook e comprar um vestido numa loja chinesa são o caminho certo para domar o orçamento. Pois não é – isso é uma visão miserabilista de um dia memorável. Todos, noivos, família, amigos, profissionais, merecem melhor.

Nenhuma das minhas respostas integrou o artigo da Sábado.


Queridas noivas e caríssimos fornecedores, o meu melhor conselho é o mais simples de todos: saber é poder. A informação é o bem mais valioso, certifiquem-se de que estão bem informados, façam o vosso trabalho de casa com critério e discernimento. Perguntem, respondam. Sejam o vosso melhor, sempre que possível – sejam os melhores clientes para os vossos fornecedores, sejam os melhores profissionais para os vossos noivos. Parem para reflectir, não se deixem engolir pelo furacão das opiniões, pressões e aparências. Virem as costas ao absurdo, abracem o bom senso.

 

As melhores escolhas são as que são positivas para todas as partes envolvidas.

Elevem a fasquia.

Não percam o foco no que é importante.

 

Época de casamentos 2018: ready, set, go!

 

 

Duas vezes por mês, sempre às quartas-feiras, escrevo sobre assuntos que me fazem pensar, num artigo de opinião a que chamo O fio da meada.

Querem discuti-los comigo? Seria um prazer! Acompanhem-me aqui.

 

 

 

 

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